Os feriados de Junho levaram-nos ao Norte de África e a uns dias de descanso em Marraquexe, a cidade Vermelha. Embora aqui tão perto, Marraquexe tem o exotismo das terras longínquas, das viagens distantes – esta é , como poucas, uma cidade que nos transporta para outra dimensão, com uma dinâmica incrível, e em que todos os nossos sentidos são imediatamente postos à prova. Dentro da medina as ruas labirínticas fazem-nos perder. Pessoas, bicicletas, motos e carros circulam pelas ruas num caos, que quase parece organizado (na realidade, parte deste caos é organizado – é suposto caminhar a pé pela direita…). Das mesquitas ouvem-se as orações islâmicas. Nos souks (mercados) misturam-se as cores e os cheiros das peles, do artesanato e das especiarias. Aqui tudo se vende, tudo se negoceia. Mas é na praça Jenma El-Fna que toda a intensidade vibrante de Marraquexe atinge o auge. Aqui misturam-se músicos, encantadores de serpentes, macacos amestrados dançarinos e contadores de histórias. Jogos inesperados surgem à nossa frente. Nos terraços dos vários cafés e restaurantes que circundam a praça bebe-se um chá de menta e avista-se o pôr-do-sol. E nas bancas de comida que surgem ao final do dia na praça, provam-se as iguarias marroquinas.
Como os sabores são a nossa paixão, não perdemos a oportunidade de fazer um workshop de cozinha marroquina durante a nossa estadia em Marraquexe. O workshop decorreu na La Maison Arabe – a mais antiga riad (casa típica marroquina caracterizada por possuir jardins ou pátios interiores) de Marrocos – que ficava mesmo ao lado da riad onde estávamos instalados.
O workshop durou cerca de 3 horas, mas deu para perceber as principais características da cozinha marroquina. A Wada, a nossa mentora, começou por nos dar uma breve introdução da base da cozinha de Marrocos, que resulta da fusão entre as cozinhas berbere, árabe, judaica e moura. As tajines e os couscous estão entre os pratos mais característicos desta cozinha. O pão é um alimento essencial e que acompanha todos os pratos. A única excepção é mesmo o couscous. (Nós, como gostámos muito do pão, acabámos por comê-lo também com os couscous para espanto dos senhores que nos serviam…) As pastillas, feitas à base de uma massa de amêndoa que depois é recheada (geralmente com carne), são também típicas da culinária marroquina. E por fim, as panquecas (ou crepes), que não são nada mais do que uma massa à base de farinha, água e sal, pode ser comida simples ou recheada. Aqui provámos um crepe recheado e um simples, e estavam bem bons!
Depois seguimos para a cozinha onde à nossa espera estava a dada, que é como quem diz a chef tradicional marroquina. Já na cozinha a dada começou por nos explicar e mostrar como se faz o pão marroquino. Sempre feito à base de farinha, água, açúcar, fermento, sal e óleo vegetal. Todos tivemos oportunidade de meter as mãos na massa e amassar o pão, que ficou depois a levedar até ser hora de ser cozido.
De seguida aprendemos como se prepara o chá de menta – chá verde, água quente, folhas de hortelã e açúcar (muito açúcar!). Os sabores do chá verde são extraídos em duas etapas: uma primeira que dura cerca de 3 minutos, e da qual se aproveita a água para o chá; na segunda, que dura mais alguns minutos e que serve para tirar o “amargo” do chá, a água é rejeitada. Depois do chá preparado, foi tempo de prová-lo.
Uma pausa na cozinha levou-nos a um forno comunitário. Os fornos comunitários são os locais onde as pessoas vão cozer a massa de pão que prepararam em casa. A responsabilidade da pessoa que coze os pães é muita: deve saber a quem pertence cada pão que coloca no forno (e olhem que são cerca de 50 pães de cada vez!), dado que cada família tem a sua forma de preparar o pão.
Tivemos também a oportunidade de cheirar algumas das especiarias e aromas típicos da cozinha marroquina. Entre elas: ras el hanout (uma mistura de especiarias), gengibre, cominhos, açafrão, pimenta, água de rosas e água de flor de laranjeira.
Já de volta à cozinha e com o pão já continuámos a preparar o nosso almoço: tajine de borrego com ameixas secas e duas saladas.
A tajine foi preparada simplesmente com borrego, cebola, coentros, um fio de azeite, água e muitas especiarias. As especiarias, cominhos, paprika, canela e açafrão, deram-lhe o toque exótico. Ficou ao lume durante cerca de uma hora, até a carne estar cozinhada e ter absorvido todos os sabores.
Enquanto a tajine cozinhava, preparámos as saladas: uma de beringela e tomate, e outra de pimento assado e tomate.
A parte mais difícil: sem dúvida as rosas decorativas. São feitas com a pele dos tomates e não é nada fácil fazer uma rosa bonita. De qualquer modo, para orgulho nacional, o prémio da “rosa mais bonita” do curso veio connosco!
No fim foi altura de saborear, à beira da piscina, os deliciosos pratos que preparámos durante esta manhã animada. Tivemos ainda como surpresa uma sobremesa: uma espécie de mil-folhas de gelado – pequenas folhas de uma massa estaladiça, com gelado de água de flor de laranjeira, salpicadas com frutos secos.
(Desculpem não haver fotos dos pratos finais, mas aqui já estávamos distraídos a saboreá-los e esquecemo-nos de tirar fotos!)
E para a despedida, um diploma de curso e duas tajines para fazer os pratos marroquinos cá por casa. Ainda não foram experimentadas, mas quando forem fica prometida a receita!